Atenção primária à saúde e internações potencialmente evitáveis: avaliação de 10 anos na perspectiva de um plano de saúde
Palavras-chave:
atenção primária à saúde, internações evitáveis, internações por causas sensíveis à atenção ambulatorial, internações por causas sensíveis à atenção primária, internações potencialmente evitáveis, necessidades e demanda de serviços de saúde, qualidade da assistência à saúde e serviços de saúde utilizaçãoResumo
Introdução: A taxa de internações por condições sensíveis à atenção primária tem sido utilizada em várias partes do mundo na avaliação e monitoramento do acesso ao sistema de saúde e de seu desempenho. No Brasil, alguns estudos foram conduzidos no âmbito do sistema público. Objetivo: Avaliar, numa série temporal de 10 anos, a evolução da taxa em beneficiários de um plano de saúde, identificando, a partir dos resultados, estratégias que permitam a melhoria da situação de saúde da população e a adequada destinação dos recursos. Métodos: Análise retrospectiva de 212.360 internações hospitalares, ocorridas de 1999 a 2008, entre beneficiários do plano de saúde, residentes em todas as regiões do Brasil. O desfecho em estudo foi a proporção de internações por condições sensíveis à atenção primária, identificadas pela CID-10 e distribuídas em vinte grupos de causas. Foi estabelecida a proporção dessas internações em relação ao total de admissões hospitalares, bem como o quociente entre o número de internações hospitalares, e a população, seja total ou de grupos etários e de causas específicas, além dos custos diretos hospitalares. As significâncias foram testadas com uso do programa Epi Info™, versão 3.3.2. As estimativas das taxas foram definidas com base em seus intervalos de 95% de confiança (IC 95%). Resultados: Em 10 anos, as internações por condições sensíveis à atenção primária foram responsáveis por 55.307 entre 212.360 internações reembolsadas pela operadora (26,0%), excluindo-se partos. A taxa bruta global média foi de 300,2 por 10 mil beneficiários do plano de saúde e o número de internações por beneficiário de 1,6. A taxa de internação por condições sensíveis à atenção primária diminuiu 28,0% no período (de 347,6 para 250,3 por 10 mil). Em 2008, as causa mais frequentes foram as gastroenterites (30,9%), seguidas pela hipertensão arterial (13,6%), doenças cerebrovasculares (9,6%), insuficiência cardíaca (8,1%), infecções no rim e trato urinário (6,8%), diabetes mellitus (5,8%) e angina pectoris (5,5%). Cada um dos diagnósticos restantes correspondeu a menos de 5,0% das internações por condições sensíveis à atenção primária. A média da despesa anual com internações foi de R$ 15.232.494, contra R$ 51.440.680 para demais condições, representando 22,8% do total. Conclusões: A redução gradativa na taxa global de internações por condições sensíveis à atenção primária observada sugere possíveis melhorias na atenção primária à saúde. Ações e estratégias adicionais deverão priorizar determinadas causas e grupos etários que serão objeto de monitoramento contínuo. O investimento em medidas que possam reduzir o número de internações evitáveis pode contribuir não só para a melhoria da qualidade assistencial, como também para o equilíbrio financeiro do plano de saúde.